domingo, 9 de agosto de 2009

ENTREVISTA AO VALETE


Tens alguma opinião sobre o chamado "rap gangsta"?
A cultura hip-hop nasceu muito inspirada na cultura dos gangs norte americanos, por isso até é normal que principalmente nos Estados Unidos, o rap gangsta tenha muita expressão. Se for uma coisa muito ficcionada, de manos a dizer que matam 10 gajos por semana e vendem toneladas de droga, normalmente absorvo o skill, e ignoro a mensagem. Se for uma coisa mais real de um mano que fala da sua sobrevivência em bairros difíceis normalmente até me identifico porque também tive uma história de pobreza.

Como vês o hip hop daqui a uma década? Muitas mudanças?
Acho que por exemplo em Portugal estamos a chegar a uma fase muito boa de qualidade a quase todos os níveis. Espero que daqui a 10 anos estejamos já no expoente máximo. E o meu desejo principal é que já exista nessa altura um público adulto, com mais de 30/40 anos. Acho que só nos falta isso agora. Para conseguirmos isso, vai depender muito do que os rappers fizerem.

Conheces algum “puto” que penses que terá um bom futuro no hip hop?
Sim tens manos novos a cuspir mesmo bem de sul à norte. Mas já tinha dito numa entrevista, eu sinto é falta de um rap mais cerebral, uma cena mais adulta e reflexiva. Hoje muitos manos dominam muito bem as técnicas de rima, têm boas punchlines e isso é muito bom por um lado, mas é mau termos só esse tipo de mc’s. Tem que haver variedade, tem que haver equilíbrio, e faltam mais manos a cuspir knowledge.

Quem foi o rapper que mais te inspirou a fazer rimas?
Pergunta difícil, mas acho que foi o Gabriel o Pensador e o Boss Ac. Comecei praticamente a ouvir rap em português com eles, tinha uns 12/13 anos, e foi por causa deles que quis ser mc.

Neste momento qual o melhor país a fazer hip hop?
Pergunta altamente subjectiva, mas podia dizer Portugal se vires em termos relativos. É um pais pequeníssimo, com muito pouca historia e cultura de hip-hop e mesmo assim tem produtores e mc’s tão bons como os melhores estrangeiros.

Qual as diferenças desde quando começaste a escrever e o hip hop dos dias de hoje?
Antigamente, o público era fundamentalmente mais culto e mais inteligente. Hoje há uma parte grande do público que é muito limitado mesmo, até porque o Hip-hop se tornou moda. Hoje tens manos a dizerem-te que o teu rap está “intelectual demais”. Estimulam os mc’s a não evoluírem intelectualmente. Por isso o hip-hop tuga tem muito essa lacuna. Antigamente se tu cuspisses cenas vagas, burras, ou pseudo- poesias ou pseudo erudição, manos mandavam-te largar o microfone. Manos analisavam cada linha tua e certificavam-se que não andavas a dizer baboseiras só para rimar. Não dava para vacilar. Hoje podes dizer bué banalidades desde que esteja bem rimado manos aplaudem a tua dica.

Sei que dizes este será o teu melhor álbum. O nome inicialmente seria 360 graus, porque mudou para "Homo Libero?
Combina na perfeição com o álbum. 360 graus em principio vai ser o subtítulo. O álbum é conceptual e fala muito duma necessária libertação colectiva que precisamos ter e Homo Libero porque o álbum também é uma sugestão para o próximo estágio de evolução humana onde passariamos do Homo Sapiens para o Homo Libero que é um Homem mais emancipado e elevado. Um Homem realmente livre.

Que impactos poderá trazer o álbum para a comunidade?
Vai ser um muito versátil, mas adulto e espero mesmo que catapulte esse movimento para cativarmos pessoas mais velhas para ouvir rap. É muito reflexivo o álbum, acho que vai nos pôr a pensar sobre muitas coisas; sobre a forma como vivemos, sobre as nossas noções de felicidade, liberdade etc.

Se o álbum for 100% a tua imagem não achas que terá uma mentalidade demasiada pesada para algumas pessoas?
Se assim for que seja mano. Apesar de eu sempre ter tido uma sonoridade meio dura há muita gente que está fora de hip-hop que ouve as minhas músicas. Gostam da minha mensagem e da minha capacidade de comunicação. Acho que é uma mais valia que tenho

Este será o último cd do Valete?
Isso depende principalmente das pessoas. É assim para quase todos os músicos. Se o álbum não vender e se os concertos não tiverem gente é obvio que vais sentir que as pessoas já não te seguem, ai tens que ser humilde e reflectir sobre tudo. Acredito que tudo tem um ciclo, e a certa altura o teu tempo já passou. Se sentir isso é muito provável que deixe de fazer álbuns

Achas possível haver revolucionários em pleno sec 21?
É mais difícil, porque a democracia globalizou-se, e a democracia que conhecemos tem esta perversidade de anestesiar os movimentos revolucionários. As pessoas ficam a pensar que tudo se resolve com o voto e que podem participar nas decisões politicas através do voto. Mas sabe-se que não é assim, porque os partidos e os políticos que governam não representam as pessoas, representam mais o sector económico. E eles têm instrumentos como a escola ( que não nos da formação politica) e a comunicação social que também existem para nos manipular e para condicionar as nossas decisões de voto. A maior parte das pessoas nem sabe bem no que vota. Votam essencialmente nos políticos com mais airplay na media. Votam no aparato.
Entrevistado por:DjGodVinil
fonte:CurtoCircuito

3 comentários:

  1. Jáh ta add, nos meus blogs parceiros do blog stars of music...
    parabéns, o seu blog é bacana!!

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  2. Valete se inspirou em Boss Ac e Gabriel Pensador...
    E eu estou me inspirando nele...
    Porque sinceramente, ele me kuia bué!!

    Valeu!

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  3. Esse site é muito BOM, era exatamente o que eu queria. Façam mais intrevistas com repentistas, valeu.

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