terça-feira, 27 de outubro de 2009
ENTREVISTA AO KENNEDY RIBEIRO (O CÉREBRO)
Como foi o teu primeiro contacto com Hip-Hop?
Começo por falar de rap... ya, por que quando ouvi rap pela primeira vez, eu não tinha a mínima ideia do que era Hip-Hop. Aconteceu em Janeiro de 1992, em Malanje, enquanto eu esgravatava a mala de cassetes da minha irmã mais velha de casa, que tinha e ainda tem uma cultura musical vasta. Numa das cassetes estava a música “Don’t believe the hype” dos Public Enemy, do Álbum “It takes a nation of millions to hold us back”. Automaticamente curti aquele som estranho e repetia vezes sem conta. Alguns meses mais tarde, na véspera das primeiras eleições em Angola, ouvi um som de propaganda eleitoral a favor de Daniel Chipenda. Não sei se te lembras, o refrão era assim: “O povo está contigo, O povo está contigo, O povo está contigo Chipenda”. Daí percebi que era possível fazer-se aquilo em Português e na mesma altura aprendi que aquele estilo chamava-se rap. No ano seguinte, resolvi investigar mais sobre o rap e acabei por conhecer o Hip-Hop como cultura. Aquilo foi o click de acesso a esta viagem.
Foi directo para produção ou começou como MC?
Comecei como MC. A produção surgiu mesmo devido a falta de instrumentais na altura. O acesso aos beats não era tão fácil quanto é hoje e os produtores contavam-se. Eu tinha um portatone da Yamaha onde imitava os instrumentais das músicas do Eduardo Paim, Ruca Van-Dúnem, Bruno Castro e outros que faziam sucesso naquela altura. Aproveitei o pouco que conhecia dos teclados e comecei a fazer batidas de rap no pequeno Portatone. Mais tarde um amigo meu de infância, O Klimoff Sousa, emprestou-me o Sintetizador Yamaha dele porque achava que eu dominava-o melhor, evolui e a partir dai fui conhecendo outras ferramentas de produção. Sempre com os olhos postos na MPC, este era o sonho!!!.
Dabullz e a Muralha. Como aconteceu?
O Dabullz é um dos MCs cujo trabalho eu sempre admirei. Eu tinha acompanhado as cenas dele desde o tempo dos Zippy. Em 2005 encontramo-nos e ele achou que eu era a pessoa ideal para produzir o Álbum dele. Fomos trabalhando mas naquele ano eu estava mais debruçado na produção. As minhas músicas estavam arquivadas. Uma vez estávamos no estúdio, ele pós-se a ouvir os meus rascunhos, curtiu e convidou-me para formarmos uma dupla, dando uma nova cara aos nossos projectos antigos. Aceitei sem qualquer hesitação, procuramos um nome para o grupo, e dentre várias propostas surgiu “A Muralha”.
Muralha o álbum para quando? Fala-nos um pouco do álbum.
Prefiro não falar em datas exactas. Só posso adiantar que está para muito breve.
Sei que o peepz está a espera do mambo há já muito tempo mas bro... eu costumo comparar a música com alimento. Como já expliquei no blog do meu myspace (www.myspace.com/kennedyribeirocerebro).
Existem dois tipos de alimento. O alimento leve, como o leite, as papas, sopas e outros, para os bebés, para os menininhos, e existe o alimento sólido Tipo, funge, galinha rija, feijoada, carnes e outros, para pessoas mais crescidas, com um estômago preparado para receber alimento mais pesado. Normalmente, o alimento leve, é de fácil e rápida confecção e o seu processo metabólico, é de curta duração.
O alimento sólido, normalmente demora muito mais tempo a ser preparado, temperado e etc., mas contém mais elementos transmissores de energias necessárias para enfrentar a vida diária.
O mesmo acontece com a nossa obra. O disco que estamos a preparar para o pessoal, é alimento sólido. Por isso leva o seu tempo até estar plenamente pronto para o consumo.
Por outro lado, tivemos também um atraso devido alguns problemas de engenharia. O atraso não vai afectar de forma alguma o impacto do Álbum porque acreditamos que as musicas são intemporais tanto em termos de palavra como no que toca a aspectos musicais.
O Álbum vai chamar-se “Klassikobelikamentedropando”- Alimento Sólido, heheheheh parece russo, né?
É uma aglutinação das seguintes palavras:
Clássico= Na concepção musical estão incorporados muitos elementos de música clássica.
Bélico= A força e emoção transmitidas nas palavras.
Dropando= A maneira como cuspimos as cenas.
Teremos muito boas participações nacionais, dentre elas Leonardo Wawuti, Ikonoklasta, Kool Klever, X da ?, CFK e Jack ‘Nkanga. As internacionais e o resto saberão mais lá para a frente.
Influências musicais?
Fora do Hip-Hop: Eduardo Paim, Ruca Van-Dúnem, Zé Mónica, Filipe Mukenga, Os irmãos Mingas, Djavan, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Kassav ...éeeee são muitos meu.
No Hip-Hop: Public Enemy, NWA, Rakim, Cypress Hill, Kris Kross, Lords of the Underground (L.O.T.U.G.), Gabriel O Pensador, Naughty by Nature, Luniz, Too Short, Dr. Dre, Gangstarr, DJ Premier, J Dilla, Pete Rock, Common, Kool Klever, Zippy & Nelboy, Paulo Koock e outros.
O que tem ouvido mais recentemente?
Do rap Internacional, ultimamente tenho ouvido muito o Album “Survival Skills” do KRS-One e Buckshot.
Tambem um coxito de um mano da Tuga, Suarez. Um Album conceptual, bem acustico, entitulado Blue Note. Não tem aquele Boom Bap mas achei muito rico. É fora do comum mas tem muita arte e imaginação.
Do nacional, tenho prestado atenção ao “Madlândia” do nosso irmão Mad Contrario.
Fora disto, tenho ouvido outras cenas tipo Madre Deus, Asa, mambos fora do rap. Para falar verdade, também não tenho tido muito tempo para ouvir música mo´rmão.
O que usa para produzir?
Hardware:
MPC 5000 da Akai Professional
Roland Sonic Cell
Roland MC-303
M-Audio Keystation 88 se
Placa M-Audio 410
Placa Focusrite 26 I/O
Monitores Activos com o subwoofer (Da Behringer)
DUas Guitarras (Uma Acústica e outra Electro acustica)
MacBook Pro e Windows Xp bem maxed out
Mixer Phonic MU1705
e outras tantas tools e gear.
Software:
Nuendo 3 e Cubase 3 sx
Reason 4
FL Studio 9 XXL
Ableton Live 5
Acid 5
Soundforge 9
Um kibutu de VST’s e outras cenas não menos importantes.
Produtores favoritos
Internacionais: Dr. Dre, DJ Premier, Havoc, J Dilla, Mad Lib, Ninth Wonder, Marco Polo, Pete Rock, R. Kelly, Babyface e mais recentemente Black Milk que teve muita influencia directa do J Dilla.
Nacionais:Mad Contrario, Conduktor, Leonardo Wawuti, DH, O Laton e o Raiva estão a fazer cenas mais emergentes mas continuam a ser dois dos melhores produtores da banda para mim, o Dji Tafinha, CMC, Alton Ventura, O Faradai e o bro dele da Jazzmática (Não me lembro do nome agora), Xtygmas e há um brother que eu ainda não conheço pessoalmente mas de quem tenho sentido algumas cenas boas e que em breve fará parte da familia Cérebro Records. Ele chama-se Ricardo e ja fez uns beats para o X da Questão, CFKappa e o Inédito (wudup Pretoooo!!!), e que está a cargo dos beats do projecto Lusohiphop.blogspot.com do Kratos, que também é membro integrante da Cérebro Records.
Mcs favoritos
Kool Klever, Dabullz, X da Questão, CFKappa (Não é cunha, são meus!!!)
Edú ZP, Os Ngonguenha (Todos), MCK, Denexél, Sickskim, os Polivalentes, Lil Jorge, Extremo Signo, Abdiel (Um dos melhores punchliners nessa cena), Valete, STK, Dialema, Kid MC, Boss AC, Eva, Geny, Ivete, Azagaia, Dji Tafinha, Diakota (Tem estado a evoluir muito), J Wimmy, ETM, Common, Mos Def, Talib Kweli, Dead Prez, Nas, Nach, Lupe Fiasco e Black Thought.
Para quem já produziu?
Já produzi para artistas dentro e fora do Hip Hop.
Kool Klever, Lil Jorge, KP´s (JB, ETM e Young S), Edú ZP, Phather Mak, Jack ‘Nkanga, Malef**k, Michelle D´voi, CFKappa, X da Questão, Oliver, Roy Kim, PJ Mussungo, Diff, Bitson, DJ Callas, Betty, Nástio Mosquito, Lukeny Fortunato, Salvaterra, Nice G, Ekhuxz, Paulo Koock, a Banda sonóra do filme “Balas e Pistolas” e outras cenas para as radios e músicos não muito conhecidos mas não menos importantes .
Que beat seu o faz mais orgulhoso e porquê.
É sempre complicado dizer qual deles me deixa mais orgulhoso. Repara que, o orgulho pelas coisas que fazemos, só existe se houver reconhecimento por parte das pessoas. Uma coisa é gostar e outra é sentir-se orgulhoso.
Uma vez que cada beat tem uma história diferente, e carga emocional própria, o impacto nas pessoas surge de varias formas, as opiniões divergem e como nenhum reconhecimento sincero tem mais valor do que o outro, não importa de quem vem. Portanto, fica difícil especificar.
Sinto-me orgulhoso por todos os beats feitos por mim porque a dedicação com que me empenho em cada um deles é igual, ou seja, o beat só avança quando eu sinto aquela cena a que chamamos “Aquilo” heheh. Parece orgasmico. Tenho um carinho especial por todos eles, cada um a sua maneira e intensidade mas ... o que me deixa mesmo orgulhoso é o reconhecimento vindo das pessoas.
Projectos de música para o futuro.
Mais uma semana, e começamos com a gravação da compilação “Mantêm-te em Movimento Vol. 1” com os tropas da Cérebro Records. Acreditamos que até a primeira quinzena de Dezembro esteja pronto.
“Mantêm-te em Movimento” é um projecto que vai abranger varias facetas da Cultura Hip-Hop e não só. Todas as novidades e movimentações em torno deste projecto, serão informadas á seu tempo.
Estamos a finalizar os Álbuns do CFKappa e do X da Questão, agora em fase de negociação para edição. Depois dessa fase, estarei mais livre para começar a trabalhar no segundo Álbum de Kool Klever e também mostrar a minha versatilidade como produtor de música trabalhando noutras cenas arquivadas, que não têm nada a ver com Hip-Hop.
Wakuti + Cérebro = Liberdade + Consciência
fonte:WakutiMusica
Rui Pedro, thankz pela dica!!
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